terça-feira, 20 de abril de 2010

Monólogo de Iago


Tenho ódio ao Mouro; e é pensamento corrente no exterior que entre meus lençóis ele já exerceu meu ofício.
Não sei se é verdade, contudo, eu, dada a mera suspeita desse tipo de ofensa, pretendo agir como se dele tivesse certeza.
Ele me tem em alta conta; tanto melhor para que meu objetivo contra ele seja atingido.
Cassio é um homem decente.
Agora, deixa-me ver: pegar o lugar dele e coroar minha vontade com dupla patifaria.
Mas, como? Como?
Vejamos: após algum tempo, maltratar os ouvidos de Otelo, sugerindo que Cassio é por demais íntimo de sua mulher,
que ele tem uma figura e uma disposição meiga suspeitáveis... moldado para fazer das mulheres pessoas falsas.
O Mouro é de natureza aberta e generosa: acredita ser honesto todo homem com aparência de honesto, e deixa-se levar docilmente pelo nariz, assim como o são os asnos.
Está concebido! Foi gerado!
O inferno e o breu da noite deverão dar à luz do mundo esse monstro.

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