quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Mágoa
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Carta ao mar
composição: Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli
Me multiplicando em sol
Tento uma canção pra você
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Acaso
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Um
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
A sorte não veste azul
As manhãs nunca eram muito diferentes uma das outras naquela rua.
A senhora vestindo azul começa sua rotina antes que o sol se tornasse insuportável durante a tarde. Caminha ao ponto de ônibus, e como estátua de jardim espera tal veículo chegar.
Passara com sua bolsa repleta das bagunças do dia-a-dia e como sempre não desejara os cumprimentos matutinos aos moços da padaria, como faziam todos os moradores do bairro mais atípico daquela cidade caótica.
Tinha pressa. Não no corpo. Dentro dele.
Sabia que como sempre acordara pouco depois de ser tarde demais e tinha consciência que havia passado um pouco dos limites.
Perderia o emprego, disso ela ainda não sabia agora, mas vocês sabem.
No fundo era o que ela mais queria. Adulta como já estava, sempre vivera à base do acaso.
Impedida de seus sonhos acostumou-se com a vida incômoda e infeliz até que fosse tarde demais para começar qualquer outra coisa além de cuidar de uma banquinha ilegal de jogo-do-bicho.
“Venda perfumes Denise!”
“Não me agradam os cheiros.”
“Venda óculos então!”
“Me agrada menos o que se faz enxergar.”
“E amor? Que tal vender amor? Venda amor Denise!”
“Isso não tenho. Nem a mim, nem aos outros e isso não exclui você.”
“Ví que precisam de alguém que venda a sorte. Vende-se a sorte ali na banquinha do centro.”
“Vender a sorte? Parece-me ideal vender aquilo que pouco tenho e que tantos precisam. Como faço?”
Bastou aparecer por lá. Denise lia e escrevia, não era feia, nem bonita.
Como havia puxado o jeito primitivo do pai e um pouco da fraqueza da mãe, tinha tudo o que era necessário para lidar com a gente que ali passava durante a semana.
“Está atrasada.”
“Eu sei.”
“Tá me achando com cara de palhaço?”
“Não.”
“Tá achando sim.”
“Não. Não estou.”
“Então você deve ser a palhaça.”
“Sim. Devo ser.”
“Então é uma palhaça muito ruim, pois eu não estou rindo.”
“Devo ser mesmo ruim.”
“Procure um lugar onde isto lhe sirva bem. Que tal a rua?”
Comeu pouco aquele dia, sem emprego, sem muito dinheiro, contentou-se com uma porção de pão de queijo no terminal de ônibus e mesmo de barriga um pouco mais cheia, não decidira ainda se voltava pra casa ou não.
Não se vende a sorte. Nem se pode contar com ela. A sorte não veste azul.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Ushuaia
Fim.
Do mundo.
O nada absoluto.
Fim de tudo.
Que não se diga muito.
Palavras que nascem lentas como a manhã.
Dos olhos brancos. Brancos teus.
Parecem transparentes, as latentes dos guiares meus.
Fim.
Da vida.
Que não se diga minha.
Fim da crina, da latente divina.
O Fim das coisas velhas que não movem a lugar nenhum.
O Fim da imagem verde, da serpente, de veneno algum.
Fim.
Fim.
Anda depressa.
Caminha ao sul.
Ao sul.
Ushu.
A.
A.
Shua, Sha-shu.
U, U.
Ushu.
A-I-A-I-A.
Fin.
Del mundo.
El nada absoluto.
Fin de tudo.
Que no se diga mucho.
Palavras que nascem lentas como a manhã.
Dos olhos brancos. Brancos teus.
Parecem transparentes, as latentes dos guiares meus.
Fim.
Da vida.
Que não se diga minha.
Fim da crina, da latente divina.
Ushu.
A.
A.
Shua, Sha-shu.
U , U.
Ushu.
A-I-A-I-A.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Sem
Eu quero a sorte de ter ao lado meu.
Alguém igual a ti.
Queria a sorte de ser aquilo.
Que você quis que eu fosse.
Nada vai trazer você pra mim.
Eu sei.
Só quero te desejar boa noite.
Só quero que me deseje sorte.
Só quero seguir em frente.
Esquecer você.
Sentidos contrários aos meus.
Não me fazem evoluir.
Sentinelas andam atentas.
De qualquer recaída agora.
De qualquer despedida agora.
De qualquer coisa que seja menos eu.
Eu sei.
Só quero te desejar coragem.
Só quero que me deseje força.
Só quero seguir em frente.
E esquecer você.
Sem tidos, sem teto, sem nada, sem ninguém.
Sem tidos, sem sensível.
Centilantes, sem saquê.
De qualquer noite embriagado ao seu lado.
De qualquer azar que se torna sorte.
De qualquer coisa que me torne seu.
Eu sei.
Só quero me desejar partida.
Só quero te desejar a vida.
Só quero passar o dia sem pensar em você.
Sem, sem, sem, sem, sem.
Paraíso
O paraíso está onde você está.
O que me mostra os olhos teus.
É o que eu quero ver.
Que dia faz lá fora?
Se é chuva, ou se é calor.
Já não importa.
Você.
Está.
Aqui.
Quero saber do que é feito o mundo.
Pra tentar saber, do que é feito você.
Vou me arriscar, a mergulhar, em seus cabelos, pelos, medos.
Aprender a respirar , sem desencostar os lábios meus , dos teus, só meus.
Paraíso.
Meu.
Meu.
Seu.
Teu.
Paraíso.
Desperta cada vez mais depressa.
A sede de você.
Te amo.
Te amo.
Paraíso, meu.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Fato.
sábado, 26 de junho de 2010
Relatório
quinta-feira, 24 de junho de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Carta aberta
O nada.
Depois de ler o conteúdo da carta fiquei horas olhando pro nada e foi o momento certo onde você se toca que tudo a volta de si mesmo não é real, nem você parece real.
Você para, você pensa:
“Todos os últimos anos da minha vida parecem de massinha.”
É engraçado, é quase como se ver diante do espelho e se sentir um vampiro, você não se enxerga ali refletido.
Vampiro.
Depois, quando a posição já não é mais confortável você mexe sua perna, o sangue volta a circular, você passa a sentir seus pés de volta, você percebe que é real.
Verdade.
Eu sou de verdade, o que senti foi de verdade, o quanto errei foi de verdade, o quanto cresci foi de verdade.
Eu mal me encaixo na própria casa.
Sou um ser distraído que esbarra nas coisas não por falta de cuidado meu, mas por falta de cuidado das coisas.
Saí da minha frente!
Levei 18 anos pra ser o que sou hoje
(e olha que é pouco tempo pra ser alguma coisa).
Dois anos não definirá em nada a forma como vou viver daqui adiante.
A única lágrima que esses olhos aqui vão derramar de verdade vai ser no dia que minha mãe morrer.
Você foi a mentira mais sem vergonha que já me contaram.
Você é pouco.
Quase nada!
Levar toda sua existência pra adquirir um único valor,
a sua tal sinceridade,
é atraso de vida,
tem muito o que correr neguinho,
que bom que essa é a hora.
Correr.
Crescer.
Adeus.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Monólogo de Iago
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Lição de casa. Conexões 2010.
Ator: É bem chato ficar dentro do bar sozinho enquanto todos seus amigos, todos fumantes saem pra puxar um cigarro. Isso acontece umas cinco vezes durante a noite.
Se essa tal lei não existisse pelo menos não sairiam da cadeira, ficariam lá, numa boa, ouvindo o cara no Karaokê, olhando pra bunda da garçonete e fazendo pose esbaforindo a fumaça.
Eu não gosto deles. Já me disseram que de todas as pessoas que você conhece, apenas duas ou três serão realmente os amigos pelos quais você mataria.
Minha carreira de assassino está fadada ao fracasso, pois hoje percebo que nenhum deles chega perto de ocupar esta vaga.
Por outro lado ficar em casa num sábado a noite faz com que eu entre numa crise ferrada.
Por muito tempo fiquei idealizando o que seria legal num amigo, assim, do jeito que eu preciso. Conseguia visualizar ele, as coisas que gostava, como se vestia, o que fazia para se divertir. Depois fiquei pensando que tecnicamente “idealizar” é tipo ter uma idéia, e se é uma idéia, está na sua mente, e se na sua mente você tem tudo o que mais gosta em uma pessoa, logo, para facilitar as coisas, cheguei à conclusão de que a melhor companhia para mim sou eu mesmo.
Durante muito tempo aprendi a me divertir comigo, não era triste ir ao cinema sozinho por exemplo.
Mas com o tempo a gente descobre que ninguém é auto-suficiente, e naquela lanchonete descobri que o que faltava não era mais açúcar no meu suco, faltava alguém na cadeira da frente.
Por isso passei a me esforçar quando o assunto é me socializar com as pessoas.
Ei, fofa! Tudo bem? Olha fiquei pensando esse final de semana num jeito de ficar tão magro quanto você! E adivinha? Magro deste jeito é impossível! Há há há há há!
João? Cara há quanto tempo! Sábado. Pizza. Falou? Chamei aquele anjinho que tu tá afim moleque! Quero te ver lá hein?
Viu? Não é tão difícil, se você for mais atento, sempre vai descobrir o que aquela pessoa precisa e acho que sou bom nisso. Pelo menos eles gostam.
Esse meu dom deve ser tão raro que até hoje não me apareceu ninguém que oferecesse aquilo que eu preciso.
Pausa.
Ontem quando eu estava voltando para casa, o metrô tinha acabado de abrir e foi estranho quando o trem chegou e só tinha eu para entrar. Na próxima estação entrou uma mulher de vermelho e se sentou. Ela desceu na estação seguinte, e um homem careca entrou em seu lugar, ficou até as duas estações à frente. Isso se repetiu durante toda a viagem e foi quando eu percebi que embora aquelas pessoas estivessem presentes por alguns minutos eu continuava sozinho e me sentiria assim mesmo se o vagão estivesse lotado. Só as estações mudaram nada mudou para mim. Nada mudou quando chegou o final do filme de domingo passado, quando me passou pela cabeça “poxa, fulano iria adorar esta cena”, nada mudou na peça de final de ano da escola, com todos os pais, de todos os colegas, enquanto os meus trabalhavam. Nada mudou enquanto estou aqui, sozinho, no palco. Com esperança de um lado e o vazio do outro.
terça-feira, 30 de março de 2010
Meu amigo violão.
Nunca falei com ele, mas ele sempre esteve lá.
Lá na parede da sala, velho, de madeira, as cordas bambas.
Hoje me faz companhia na rua, no banco do ônibus,
é quase como andar com um vivo, ele vibra com a pulsação da rua.
Como não pude dizer "olá" antes?
Embora não o conheça direito, dispenso quem me queria explicar o sentido da vida. Pra quê me importa se já arrumei sentido para meus dedos?
sábado, 20 de março de 2010
O que é ser jovem?
Você realmente achou que pudesse me revirar do avesso e fazer da minha bagunça uma bagunça ainda maior?
Eu sei das coisas que me movem, mas nunca precisei ditar a ordem de como essas mesmas coisas acontecem. Sei da minha idade, do meu nome, onde moro, e embora não saiba ao certo onde quero chegar, tenho absoluta certeza de onde não vou pisar meus pés.
Você espera respostas? Eu também as espero, muitas delas acredito que você mesmo responda um dia.
Às vezes sento no meu quarto e permito que o sol invada a janela. A sombra projetada pela garrafa de coca-cola me diz quais são as horas e é desta forma que passo a tarde, crente de que a brisa não me traga apenas frescor, mas que sussurre em meus ouvidos aquilo que você deseja ouvir agora.
Sei que tem urgência nisso, mas bem que poderia me dar mais tempo pra respirar saca?
Essa sua pressa só faz com que eu me atrapalhe mais buscando aquilo que você procura.
Como posso te dizer com clareza o que significa ser jovem se a minha própria voz ainda nem foi definida pelo meu corpo, se ainda estou aprendendo a andar de bicicleta, se ainda não comprei aquele CD que todo mundo anda ouvindo ou lido aquele livro que meu primo indicou. Se ainda saio do chuveiro sem secar direito as costas e de vez em quando pulo o muro do jardim da escola?
Nesse estado de entropia penso que talvez eu realmente tenha consciência do poder das palavras que um jovem domina e o quanto elas foram tão importantes na geração dos meus pais. Isso só faz com que eu me preocupe com o significado que as palavras terão na boca dos meus filhos, pois hoje, enquanto danço ao som da música do momento e me banho com os prazeres desta beleza efêmera que é a juventude, amanhã você não estará tão urgentemente serena, apenas esperando sua vez de entrar, apenas em algum canto remoto do meu cérebro.
Você vai chegar, você vai fazer parte do meu nome, do lugar onde moro, e dos pés que sabem onde não querem pisar.
Você estará cravada nas minhas rugas, na minha testa, na minha voz que já terá uma cor, e em tudo aquilo que eu já tenha construído.
Então, enquanto esse dia ainda não chega, apenas para que você sossegue o faxo e me deixe um pouco mais em paz, aí está a resposta da sua pergunta:
Ser jovem é ser criança vivendo vida de adulto.
terça-feira, 16 de março de 2010
Olhos devassos
Palavras em folhas.
sexta-feira, 12 de março de 2010
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Todo mundo explica
Não me pergunte por que
Quem-Como-Onde-Qual-Quando-O Que?
Deus, Buda, O tudo, O nada, O ocaso, O cosmo
Como o cosmonauta busca o nado, o nada
Seja lá o que for, já é
Não me obrigue a comer
O seu escreveu não leu
Papai mordeu a cabeça
Do Dr. Sugismundo
Porque sem querer cantou de galo
Cada cabeça é um mundo Gismundo
Antes de ler o livro que o guru lhe deu
Você tem que escrever o seu
Chega um ponto que eu sinto que eu pressinto
Lá dentro, não do corpo, mas lá dentro-fora
No coração e no sol, no meu peito eu sinto
Na estrela, na testa, eu farejo em todo o universo
Que eu to vivo
Que eu to vivo
Que eu to vivo, vivo, vivo como uma rocha
E eu não pergunto
Porque já sei que a vida não é uma resposta
E se eu aconteço aqui se deve ao fato de eu
simplesmente ser
Se deve ao fato de eu simplesmente
Mas todo mundo explica
Explica, Freud, o padre explica, Krishnamurti tá
vendendo
A explicação na livraria, que lhe faz a prestação
Que tem Platão que explica, que explica tudo tão bem vai lá que
Todo mundo explica
protestante, o auto-falante, o zen-budismo,
Brahma, Skol
Capitalismo oculta um cofre de fá, fé, fi, finalismo
Hare Krishna, e dando a dica enquanto aquele
papagaio
Curupaca e implica
Com o carimbo positivo da ciência que aprova
e classifica
O que é que a ciência tem?
Tem lápis de calcular
Que é mais que a ciência tem?
Borracha pra depois apagar
Você já foi ao espelho, não?
nego?
Então vá!
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Diálogo teste 01
- Ninguém ali acreditaria nisso.
- (ri) É, eu bem que precisava daquilo, nunca fui de festas, mas essa me fez tão bem.
- Fico contente que tenha gostado. Ficaria mais ainda se me dissesse que já se esqueceu de tudo aquilo.
- Você sabe que as pessoas temem quase a vida toda a infelicidade, meus pais temem ser infelizes caso um separe do outro e recomecem uma nova vida, sem o outro. Tanto medo de largar o que é cômodo faz com que o medo da infelicidade os façam infelizes da mesma forma, até mesmo pior.
- É.
- Sou grato a infelicidade.
- (...).
- Sou grato por não ter passado por uma festa assim antes, por descobrir hoje que dançar me faz bem, de ter sido infeliz.
- Quem agradeceria a infelicidade?
-Alguém que saiba hoje o prazer de ser feliz. Só quem já conheceu a tristeza tem o parâmetro daquilo que as fazem felizes. É isso que nos faz correr tanto atrás de um emprego, ou de uma família, ou de um novo amor, ou de uma nova festa; Se eu não tivesse passado por tudo aquilo hoje, não saberia o que é ser feliz com você agora.
- Isso é bonito...
- Isso é álcool!
- (ri) Não, você é o tipo de pessoa que diria isso muito sóbria.